AS COISAS MAIS DESNECESSARIAMENTE IMPORTANTES DA VIDA

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Depois de viver a pior e a melhor semana do ano, as conclusões chegaram e me trouxeram à memória as coisas mais desnecessariamente importantes dos meus últimos 12 meses - o um ano que passou.

Primeiramente: a grande redescoberta de que Deus tem “borogodó espiritual”. Vamos ao “Pai dos Burros” e das criancinhas perdidas, o dicionário: “Borogodó é um atrativo físico muito peculiar”. Durante um ano eu parei de entender o significado exato disso, o que me causou muita impaciência com a vida. Era como se o “tico-teco” do entendimento, do nada, tivesse parado de funcionar corretamente e habitualmente. E então, o problema é que muita coisa passa a chamar a nossa “atenção peculiar” e a variedade de informações nos deixam “pilhados”, desregulados e cheios de perguntas também. A lista de questões ficou tão grande e acumulada que eu mesma, se fosse Deus, não me habilitaria a responder. Por quê? Porque respostas específicas são desnecessárias, pois quando acendemos a luz da sala de uma casa, por exemplo, quase todos os outros cômodos são iluminados. Esta foi a parte mais difícil de entender.

Em segundo lugar vem a motivação. Na verdade, a motivação não existe nem nunca existiu. Por quê? Porque ela é sempre temporária e só aparece quando convém. Esta “bichinha traiçoeira” sempre abandona o barco quando ele está próximo do naufrágio. Ela não é paciente e nem sempre presente. A motivação é uma coisa que vem de dentro e precisa de um contexto, de uma história para existir. Depois disso, some, desaparece como as nuvens. Assista à cena final do primeiro filme do Rambo que você vai entender. O Rambo cai em si e descobre que a guerra do Vietnã acabou e que seus amigos já estão todos mortos. Conclusão dele: não há motivos para “continuar” aquela guerra na cidade com os civis. Enquanto as campanhas corporativas gritam “motivação!”, eu poderia dizer “Viva!”. Se eu crer na motivação (essa figura toda transitória) para as coisas acontecerem, minha vida não vai passar de oscilações momentâneas. Como no seriado dos “Trapalhões” em que a piada era: “Ih, ficou rico. Ih, ficou pobre. Fica rico, fica pobre, fica rico, fica pobre”. Viver é a melhor escolha.

A terceira conclusão já é velha: a verdade importa sim. Continuo a não acreditar que a verdade machuca. E mais: desconfio de pessoas que crêem na mentira e na ilusão, pois a verdade não tem poder para diminuir ninguém e nem controlar ninguém. A verdade não tem poder sobre as pessoas, mas a falta dela com certeza tem poder na vida de alguém. E outra: se acreditarmos que a verdade enfraquece alguém, significa que a mentira nos aumenta e  nos projeta para uma dimensão de superioridade (com o pretexto de proteger alguém da realidade coloca-se a pessoa no mundo da ilusão). Esta afirmação também não é radical ao ponto de sempre dizermos “Ipsis Litteris”, mas a essência da verdade pode ser tratada com suavidade também, pois sempre alivia e purifica em longo prazo (não automaticamente). Observe que em todas as conclusões honramos quem esteve ao lado da sinceridade e o rancor permanece ao lado dos “malfeitores” e mentirosos. Escutei e concordei com as citações: “A verdade tem força e se impõe contra todos os disfarces. O íntegro fala a verdade até mesmo quando ela o diminui”. Até a Bíblia trata desse assunto como conduta. E sabe onde? Nas visões sobre o Apocalipse.

Os finais devem ser tão bonitos quanto os começos”. Esta é a quarta observação e igualmente valiosa. Não compre a idéia de que o fim de alguma coisa tem que ser abominável. Que nada! O fim é só um substantivo, não é adjetivo de nada, pois não qualifica nem define. Se não aconteceu da forma como você desejava, não era para acontecer daquela forma. Às vezes (muitas vezes), tudo vai contra a lógica da situação. Pessoas em questão de dias não se amam mais. Pessoas que estavam prestes a se casar são traídas, assim do nada. Namoros tão maravilhosos terminam, assim do nada também. Conhecemos pessoas especiais e depois desconhecemos as reações dessas pessoas. Terminamos um cronograma de estudo e, de repente, reconhecemos que ainda precisamos estudar muito mais. Não é que a vida está na contramão. Não, não é. É que ela é contraditória mesmo e para o nosso próprio bem e proteção. Ela não faz sentido porque nunca precisou desse senso todo para estar em cada um de nós. Então, retomo a idéia de muitos dias, “nem tudo que faz sentido, faz bem”. Isso quer dizer que o fim é precioso por ter uma conclusão, o tão esperado “gran finale” para o início de novas coisas. O contraditório pode ser excelente!

A quinta idéia é que sonhos sempre serão um emaranhado de ideias e significados. Tive sonhos significativos a semana inteira, mandei recados para algumas pessoas e no sétimo dia recebi o meu recado, o desejado recadinho. Um ano sonhando significativamente com outras pessoas e, de repente, sonhei comigo. Foi um presente, um “acontecimento”. Você pode até pensar: “Ah, mas que bobagem! Todo mundo tem sonhos”. É, mas eu sempre lembro de cada detalhe da história e isso é muito mais freqüente do que você possa imaginar. O sonho vem completo, tem diálogos complexos e ainda consigo perceber detalhes de roupas, rostos, números, símbolos, etc. Não é pura criatividade, são sonhos, de fato.    

Em sexto lugar vem a indignação que beira a insanidade. É neste nível que você não entende mais nada acerca de nada. Junte todas as ideias anteriores mal entendidas ou formuladas e coloque na mente de alguém. É esta a sensação: estar em ruínas. Você não entende se cada coisa tem seu preço e nem mesmo se é necessário “pagar” um preço pelas coisas. Após muita insistência, você desiste pelo desgaste. Assim, não é mais o cansaço que toma conta de você, mas as torrentes de pensamentos vazios indo e vindo. Torrentes que acabam se tornando correntes dolorosas e cheias de prisão com a mais famosa delas, a confusão.

E no sétimo dia: imagine que você está dentro de um navio prestes a afundar, sofrendo de insolação no meio do oceano e sem bússola. Nenhum tripulante para conversar e nenhum comandante para governar a direção. Você está somente à espera de alguém, de socorro. Aí, surge um homem num barco trazendo água potável. Bom, você esperava que ele trouxesse uma ajuda completa, mas ele só trouxe a água. E você acaba se irando pela atitude simplista deste homem e exclama: “Caramba! Eu estou quase morrendo, você não percebeu? Eu não preciso somente de água, eu preciso de um médico, eu preciso sair daqui... Quero ir embora para casa e no seu barco não cabe nem você! É o fim!”. O homem percebe aquele “ataque de pelanca” que você acabou de ter e diz: “Eu trouxe a água para você não morrer, mas não posso resolver tudo de uma vez. Tenha calma, volto já!”. O homem riu e foi embora. A cada 24h, ele trazia algo diferente para tentar ajudar. Na última vez, não foi aquele homem mesmo que apareceu, mas outro diferente. O outro homem conversava demais e trouxe somente sua própria conversa, suas palavras. A vista do mar era muito propícia à reflexão. A noite chegou, a Lua apareceu e o céu também ficou muito propício à reflexão. Depois daquele papo gostoso, você percebeu que todos os detalhes daquele cenário e daquela história eram muito propícios a conclusões. Sim, você se salvou no sétimo dia. Dormiu e acordou em casa, a salvo. Lembrou dos dias de ruína, deserto, solidão, sombra e um pouco de água fresca.

Durante um ano, aprende-se muito e entende-se que a passagem de tempo é a única parte exata e lógica de toda história e de sua vida. Por fim, despreocupa-se em companhia de alguém com “borogodó” para tudo.

#cassideias e boas conclusões!

Bjs ^^

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