MAIS CONTOS PARA RETER BONS PENSAMENTOS: ACHADOS E PERDIDOS

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Num bom papo, enquanto observava a Lua Cheia - perdida em meio ao extenso céu -, reparei no tema da conversa: a forma como os defuntos são enterrados. Na roça, chamava-se “roupa de enterrar mortos”. Normalmente, era a melhor roupa que o sujeito (ou mulher) possuía, como um terno ou vestido, por exemplo. Esta roupa era usada num único dia, no dia especial, no dia de sua morte.

Assim como a Lua estava perdida no céu, eu estava perdida na conversa por não entender a motivação das pessoas que moravam num ambiente rural não poderem usar suas melhores roupas numa ocasião especial que não fosse o seu próprio enterro. Intrigada, imaginei a reação delas ao ver um cadáver sendo enterrado “maltrapilho”. Entendi que essa roupa era a própria dignidade daquelas pessoas, mesmo que, durante uma vida inteira, ela tivesse vivido na miséria. Atualmente, a situação se inverteu: mesmo que, durante uma vida inteira, a pessoa tenha sido correta, com apenas um deslize ela se torna desonesta para sempre.

É fácil observar como são lembrados de forma marcante os nossos erros, mas os nossos acertos são vistos como simples conseqüências. Conquanto, não acredito que seja fácil acertar, portanto, não são conseqüências. Na realidade, errar é mais simples, mais executável. Acertar exige de nós experiência, destreza, bravura e tranqüilidade, pois cada reação interfere nos acontecimentos ao nosso redor. E lembrei da seguinte mensagem: “Todo perdido deseja ser achado”. Qual a sensação de quando, somos crianças ainda, nos perdemos de nossos pais? No início é agradável, pois podemos caminhar por onde queremos sem sermos controlados. Mas depois de três minutos, a ansiedade surge com inquietação e o seguinte pensamento: “E se ninguém me procurar?”. O desespero foi instaurado em minutos. Aquele que se perde, quer se achar. Nem sempre ele encontra o caminho sozinho, mas sempre deseja intensamente que alguém o encontre.

Uma colega tinha razão quando citou que “quando existe amor o reencontro é inevitável”. Essa razão faz com que todo perdido seja encontrado. E pensei: eu também gostaria de ser encontrada, como um achado precioso, como uma raridade, de maneira especial. E se o reencontro é inevitável, por que evitamos tanto encontrar pessoas, encontrar Deus? Várias amizades “imperdíveis” simplesmente me acharam! E se naquelas tardes, numa escola nova, eu não tivesse sido seguida por dois grandes amigos? De fato, eu nunca os teria conhecido. Foi somente o início de um longo período de convivência. E se naquele dia comum de trabalho eu não tivesse encontrado aquela mensagem na Bíblia encostada numa mesa? Entre achados e perdidos, finalmente salvaram-se todos!

Simplesmente não há distinção em quem acha ou quer ser achado. Certamente, Deus sabia que um dia nos sentiríamos assim, perdidos num vasto mundo físico ou perdidos na imensidão da mente. O grande motivo de contentamento da Lua Cheia é não se sentir perdida, pois, mesmo não sendo o centro do universo como o Sol, ela – lá de cima - pode achar quem quiser. Além disso, de tempos em tempos, eu a encontro e a contemplo em todas suas aparições. Para mim, ela é preciosa nas noites de descontentamento ou coração partido.

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